Desenvolvimento Cognitivo - Vygotsky

05/06/2009 09:25

Piaget, mostra-nos que as crianças são como “cientistas” individuais, que formulam e testam hipóteses cada vez mais complexa sobre o mundo e as suas próprias experiências e interacções.

Um desafio importante à teoria de Piaget provém deste ênfase mais recente, no campo da psicologia do desenvolvimento, nas relações confusas e recíprocas entre o indivíduo e o contexto social.  Neste desvio de perspectiva, provém Vygotsky.

As suas perspectivas e teorias influenciaram um número crescente de estudos empíricos e teóricos, sendo actualmente consideradas como altamente relevantes para campos aplicados como o da educação.

Vygotsky criou um modelo de cognição ambicioso que tem como base uma abordagem social-histórica.

Tal como Piaget, que achava que a criança era um construtor activo de conhecimento e entendimento. Mas diferiu de Piaget na ênfase que deu ao papel da intervenção directa, neste processo de aprendizagem, por parte de outros indivíduos mais conhecedores e experientes. Vygotsky defendia que era em resultado das interacções sociais entre a criança em crescimento e outros membros da sua comunidade que aquela adquire as ferramentas de pensamento e da aprendizagem. É com esta interacção de indivíduos mais experientes que a criança fica mais informada. Esta instrução encontra-se na aprendizagem.

Este, defendeu que a consciência é fundamental para a ciência da mente e que os seres humanos estão sujeitos a uma interacção dialéctica entre factores biológicos e culturais.

A psicologia de Vygotsky consubstanciava-se com o marxismo.

O ponto de vista de vygotsky era bastante diferente do Piaget, pois este defendia que o comportamento intelectual da criança era uma manifestação das actividades infantis individuais, já Vygotsky achava que para entendermos o funcionamento mental do indivíduo temos de ter em conta os processos sociais nos quais ele se baseia. A linguagem desempenha um papel central no desenvolvimento da mente.

A actividade humana é medida pelo uso de ferramentas, que estão para a evolução cultural como os genes para a evolução biológica.

Do mesmo modo que os sistemas de ferramentas, os sistemas de signos (linguagem, escrita, numeração) são criados pela sociedade e mudam com o seu grau de desenvolvimento, cada indivíduo alcança a consciência através da actividade decorrida por essas ferramentas, que unem a mente com o mundo real dos objectos e dos acontecimentos.

Vygotsky entendia que o funcionamento mental como acção e defendia que, antes de este controlo consciente e auto dirigido se desenvolver, a acção é o modo pelo qual a criança reage ao mundo, é também um processo retrospectivo e reflectir sobre os seus próprios pensamentos, utilizando a linguagem, que torna uma pessoa capaz de ver as coisas de uma maneira diferente. A aprendizagem é conseguida através da colaboração com os outros como por exemplo, colegas, professores, pais e outras pessoas importantes para a criança.

Em segundo lugar, através dos representantes simbólicos da cultura da criança como, as canções, as actividades lúdicas, através das metáforas.

Neste processo recíproco, o desenvolvimento da criança como aprendiz reflecte a sua experiência cultural.  A teoria de Vygotsky a criança constrói um significado dos seus comportamentos através das interacções com as pessoas que lhe são importantes. As relações sociais ou interpessoais constituem uma base genética de todas as funções superiores e dos seus relacionamentos.

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é uma área potencial do desenvolvimento cognitivo, consiste na distância que medeia entre o nível actual de desenvolvimento da criança, determinado pela sua capacidade actual de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas sob orientação de adultos ou em orientação com adultos mais experientes ou colegas mais competentes.

Vygotsky defende que a aprendizagem precede e condiciona o desenvolvimento cognitivo. E mais: a aprendizagem pode progredir mais rapidamente que o desenvolvimento e, regra geral, redunda em desenvolvimento. No fundo, a ZDP é uma verdadeira janela de oportunidade para a aprendizagem, sendo necessário que o professor a prepare e conceba e ponha em prática tarefas de ensino e aprendizagem que potenciem essa janela. Os instrumentos principais que o professor pode usar, no sentido de potenciar a janela de oportunidade (a ZDP), são a linguagem e o contexto cultural, os quais são considerados por Vygotsky como as mais importantes ferramentas ao serviço da aprendizagem e do desenvolvimento. Para além dessas ferramentas, o professor deve assumir-se como mediador entre a criança e os objectos e entre as crianças e os pares.

Se o professor propõe tarefas que estão para além da zona de desenvolvimento proximal, é quase certo que a criança não vai entender a tarefa, não vai ser capaz de a realizar ou vai concretizá-la incorrectamente. Mediadores são também os pares que se revelam mais capazes. Nesse sentido, a criação de grupos de aprendizagem colaborativa, com crianças em diferentes níveis de aprendizagem, embora próximas na capacidade para a realização das tarefas, constitui outra estratégia de mediação importante. Importa ter presente que o mediador externo deve ter significado para a criança, estar ligado a um objecto que a criança use antes ou durante o desempenho da tarefa e combine a mediação com o uso da linguagem e do contexto cultural.

O psicólogo Bruner desenvolveu e aplicou as ideias de Vygotsky em contextos educacionais. Este apresentou dois conceitos:

*        Suporte ou apoio: Um largo conjunto de actividades através das quais o adulto ou o colega mais experiente ajudam o aprendiz a atingir os objectivos que, de outro modo, estariam fora do seu alcance, nomeadamente, exemplificando uma acção sugerindo uma estratégia para a resolução de um problema ou estruturando a aprendizagem em partes que possam facilmente ser trabalhadas. É uma estrutura de apoio flexível e centrada na criança, ajudando-a a aprender novas coisas e proporcionando-lhe uma base de apoio ou ponto de partida sólido para agir. Á medida que a criança se torna mais independente, o adulto pode gradualmente ir retirando o suporte até que a criança já não necessite dele.

Bruner descreveu o desenvolvimento cognitivo da criança como algo composto por modos distintos de representar o mundo, onde se encontram na base do conceito currículo espiral, ou seja, pretende significar que os princípios de determinado assunto são entendidos, por uma pessoa, por níveis cada vez mais sofisticados.

  1. Actuante ou interpretativo: a criança representa o mundo através da acção
  2. Icónico: Nesta representação a criança é capaz de utilizar imagens para significar objectos.
  3. Simbólico: liberta as crianças do contexto imediato, tornando-as capazes de simbolizar. A criança é capaz de ir para além da informação dada e representar o seu mundo simbolicamente, ou seja, intelectualmente. Depende em grande medida da linguagem, no centro de pensar de modo abstracto e de tomar o conhecimento como seu.

Bruner defendia que o currículo escolar devia ser construído em volta das questões e valores sociais importantes. Ele entende que os princípios e conceitos de uma disciplina devem ser relativos e relacionados com as necessidades do aluno. É um processo que torna a criança capaz de ir mais além da informação transmitida, de modo a formar ideias próprias.

Todo o funcionamento humano é, por natureza, sociocultural, na medida em que incorpora instrumentos culturais socialmente desenvolvidos e organizados.

Na perspectiva de Vigotsky, as crianças não agem isoladamente, mas tomam para si própria o conhecimento numa comunidade de indivíduos que partilham uma cultura comum.

A linguagem é, então, a chave pois, é através do discurso que a criança se desenvolvia como pensador e aprendiz. A linguagem reflecte na nossa cultura. A pessoa, como ser consciente e pensador, teria muito pouco sucesso sem as ferramentas fornecidas pela história e cultura. Os monólogos das crianças tinham um carácter muito social, representando a transição da linguagem como instrumento de regulação da acção e das necessidades comunicativas para a linguagem como instrumento do pensamento.

Ele desenvolvia que o pensamento da criança como pensador surge quer do diálogo com os pais e outros adultos responsáveis por ela, quer em relação com a sociedade mais alargada da qual os pais fazem parte. A sua perspectiva torna a utilização da linguagem como base para o pensamento e também como representação da cultura, os dois aspectos estão interligados.

 

—————

Voltar